Conheça a história de Marcílio Andrino, brasileiro que recebeu milagre que levará Madre Teresa Calcutá a ser proclamada Santa
Madre Teresa de Calcutá
No âmbito da programação do Ano Santo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco vai proclamar a santidade de Madre Teresa de Calcutá, como um ícone da misericórdia de Deus.
A partir da celebração do rito de canonização, que acontecerá no dia 4 de setembro de 2016, no Vaticano, ela poderá ser venerada de forma pública, nos altares, por toda a cristandade. “Cidadã do Mundo” e “Prêmio Nobel da Paz”.
Marcílio Haddad Andrino e Família
A canonização será possível porque o Santo Padre reconheceu um milagre atribuído à religiosa: a cura inexplicável, do brasileiro Marcílio Haddad Andrino, ocorrida em dezembro de 2008, que se recuperou dos múltiplos tumores que tinha no cérebro.
Em entrevista ao site da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Marcílio e sua esposa, Fernanda Nascimento Rocha Andrino, que a todo tempo esteve ao seu lado, acompanhando e rezando pela sua saúde, contam todo o processo que culminou com a cura.
Marcílio Haddad Andrino com a esposa Fernanda durante entrevista ao programa Fantástico
Conte um pouco sobre a sua história de vida?
Marcílio Haddad Andrino – Nasci em Santos (SP), no dia 28 de agosto de 1973, e tive uma infância normal, feliz. Sempre tive uma ótima convivência com meus familiares, meus irmãos. Minha mãe sempre me levava à Igreja Católica, fiz a Catequese e a Primeira Comunhão. Aos seis anos, descobri que tinha uma doença renal e comecei a fazer tratamento. Meu irmão Mauro, oito anos mais velho do que eu, que me doou um rim, e minha irmã Marta, dez anos mais velha, cuidaram de mim junto a meu outro irmão, quatro anos mais velho, chamado Maurício, a quem eu sou mais próximo desde criança.
Apesar da doença, eu era totalmente saudável. Tinha muitos amigos, corria, jogava bola, brincava. Uma coisa que eu não podia fazer era comer muito sal. A doença complicou quando eu tinha 18 anos, e cheguei a parar de raciocinar, tinha câimbras pelo corpo. Passei por um neurologista, fiz exames e os resultados estavam acima da média, mas surpreso porque ainda conseguia andar. Aos 19 anos, depois de fazer hemodiálise durante nove meses, fiz o transplante renal. Mas mesmo assim, sempre vivi muito bem, até hoje, 22 anos após o transplante, estou completamente bem, meus exames estão normais, sem problema nenhum.
Como descobriu a doença?
Marcílio - Depois de várias convulsões, tive uma muito forte, na qual eu fiquei completamente apagado e fui internado num hospital de Santos. Meus familiares estavam com os exames na mão e um médico neurologista conseguiu descobrir: eu estava com abscesso cerebral. Ele foi o primeiro a descobrir o que eu tinha. A partir da descoberta, eu passei a fazer o tratamento com dois antibióticos, e um deles deu reação. Saí do hospital tomando dois antibióticos na veia toda hora.
Eram quatro injeções por dia, acabei ‘perdendo todas as veias’. Passei a ser medicado na coxa e na perna, e quando não foi mais possível nesses lugares, o médico decidiu pela cateterização venosa central com a intra-cath. Senti uma dor horrível, muito forte. Quando fui à UTI, precisei colocar outro intra-cath por que o primeiro havia saído.
Como foi o tratamento?
Marcílio Haddad Andrino – Nesse período, de abril a outubro de 2008, não tive melhoras, pelo contrário, fui piorando cada vez mais. Chegou um momento em que praticamente não conseguia mais andar. Meu lado esquerdo estava parando aos poucos. Fui internado desacordado, mas eu ainda andava, cambaleando, e conseguia ir ao banheiro. Dez dias depois de internado, na parte da manhã eu fiz fisioterapia (comecei a fazer no hospital mesmo), almocei e deitei um pouquinho. Às duas da tarde, eu já não conseguia mais andar. De uma hora para outra meu lado esquerdo paralisou.
Não conseguia mexer nem o braço nem a perna esquerda. A partir disso, eu fiquei totalmente dependente de ajuda. Após as fisioterapias, eu ia para fora andar. Mas, praticamente, me colocavam em pé para dar um passo de cada vez. Até eu conseguir chegar à máquina de café que tinha no hospital, era quase meia hora. Uma pessoa precisava estar ao meu lado, do contrário, desabava, não tinha equilíbrio nenhum, mesmo com a medicação. De uma manhã para uma tarde, perdi o lado esquerdo e o equilíbrio.
A cura foi um novo ‘nascimento’?
Marcílio Haddad Andrino – O dia da dor de cabeça foi o mais crítico de todos. A partir do dia 10 de dezembro, acabou a dor de cabeça. O líquido que tinha na minha cabeça foi escoado e os abscessos começaram a sumir. Fiquei somente com as cicatrizes. Desobstruiu-se a passagem do líquido que estava acumulando. A partir desse dia, comecei a sentir as melhoras. O meu médico disse: ‘Você não tem mais nada. Só vamos acompanhar a evolução’. Acho que muitos acharam que eu ia morrer. Depois do dia da dor de cabeça, fiquei internado por mais treze dias.
A cura foi instantânea?
Marcílio Haddad Andrino – Uma coisa que sempre explico às pessoas é que eu não saí andando no dia seguinte, mas a partir daquele dia eu tive uma melhora impressionante. Tanto que depois de treze dias já sai do hospital, no dia 23 de dezembro. Fui internado no dia 9 e saí dia 23 de dezembro.
Do mesmo jeito que piorei, também melhorei. De manhã eu andava, à tarde parei de andar; depois desse dia foi mais ou menos parecido. De uma hora para outra também passei a perceber uma melhora rápida. Depois passei por seis meses de fisioterapia. A cura aconteceu no mesmo dia, à tarde, logo depois do almoço. Meu maior medo, desde o início dos sintomas, era parar tudo e só ficar mexendo os olhos. Esse sempre foi meu maior medo.
Como a Madre Teresa entrou na sua vida, na sua história?
Marcílio Haddad Andrino – Quando comecei a sentir os primeiros sintomas, em abril de 2008, ainda não era casado, mas já estava com o casamento marcado para o dia 27 de setembro do mesmo ano. Casei doente, sem saber o que eu tinha. Não me senti bem na viagem de lua de mel, não aproveitei nada. Estava inchado, irreconhecível, por conta da cortisona.
Fui internado após retornar da lua de mel. Em outubro, a Fernanda foi falar com o padre Elmiran Ferreira, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em São Vicente (SP). Ele celebrava missas na casa das Missionárias da Caridade, e quando a Fernanda foi lá, ele ofereceu uma relíquia das vestes de Madre Teresa, dizendo que rezasse pedindo sua intercessão, já que ela foi uma pessoa de coração misericordioso, preocupada com os mais sofridos.
Vocês pediram a intercessão da Madre Teresa?
Marcílio Haddad Andrino – Todo dia, a partir do final de outubro, a Fernanda colocava o santinho com a relíquia da Madre Teresa debaixo do travesseiro e a gente rezava toda noite. Numa das vezes, ela deixou debaixo do travesseiro e o pessoal da limpeza levou tudo. Ela retornou à paróquia e o padre deu outro santinho. Tinha também um livrinho de orações da Madre Teresa. No dia em que eu tive a dor de cabeça, a Fernanda colocou o santinho debaixo do meu travesseiro ainda no quarto, mas retirou quando me levaram para a sala de cirurgia. As enfermeiras acharam que eu fosse ficar um período na UTI, mas, como no dia seguinte eu já não sentia mais dor, me levaram a outro quarto.
Você sentiu a cura?
Marcílio Haddad Andrino – No dia seguinte ao dia da dor de cabeça, a Fernanda me contou que orou fortemente a Madre Teresa quando saiu do hospital. Quando entrei para o centro cirúrgico, ela ficou tão abalada que saiu do hospital e rezou, insistentemente, a Madre Teresa. Para a Fernanda, foi a intercessão, foi um milagre da madre.
Tanto que no dia seguinte o meu quadro melhorou. Ela encontrou o médico, ele disse que eu estava bem e aí ela conectou os fatos. Quando eu estava com muita dor de cabeça, acordei sem saber o que estava acontecendo. Apaguei numa hora e acordei noutra. Fui mantido em coma induzido. Senti uma paz muito grande, foi algo impressionante. Uma gratidão. Nenhum médico me dava esperança e como, de uma hora para outra, fiquei curado? Foi por intercessão de Madre Teresa. Ninguém sabia o que eu tinha, somente o último médico.
Como o caso veio a público?
Marcílio Haddad Andrino – Quando o padre Elmiran Ferreira tomou conhecimento sobre a cura repentina, ele sugeriu que tornássemos o acontecimento público. Fiz um depoimento por escrito em quatro folhas e enviamos para o postulador da causa, padre Brian Kolodiejchuk. No dia 19 de junho de 2015 foi aberto o processo na Diocese de Santos e acharam que era válido.
A partir disso, começaram as investigações. Uma comissão veio várias vezes a minha casa, inclusive o postulador. Já com as Missionárias da Caridade, eu estou em contato desde 2010. O encontro que tivemos foi para recolher os exames, saber o que eu sentia. Elas pediam muito a declaração do meu médico, que entregou por escrito, depois de muito tempo.
Como é a vida de um miraculado?
Marcílio Haddad Andrino – Após o milagre, minha fé aumentou muito. Acredito que existe um Deus que olha por cada um de nós. Vejo Deus em todas as coisas, até mesmo nas pequenas. Antes, eu não conseguia dar um passo, hoje eu agradeço por poder andar. Vejo que tudo tem a mão de Deus, até no simples andar.
Sempre fui um homem de fé, agora, ainda mais. Hoje eu vejo a vida de outra forma. Fico impressionado como agora um simples andar é importante pra mim. Os pequenos detalhem fazem diferença. Só quem sente na pele, sabe o que estou dizendo. Vi pessoas falando assim: deixa ele se virar! Mas até para passar manteiga no biscoito eu tinha dificuldades. Conseguir andar, comer, ser independente, isso me deu outra visão sobre a vida.
Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro
Fotos: Carlos Moioli / Divulgação e Reprodução Fantástico/Rede Globo